quarta-feira, 28 de maio de 2014

Sem-terra e outros casos

As palavras compostas formadas por "sem-" aplicadas a pessoas são em geral invariáveis: 

o sem-terra, 

os sem-terra, 

o sem-pão, 

os sem-pão, 

o sem-trabalho, 

os sem-trabalho, 

o sem-vergonha, 

os sem-vergonha, 

o sem-teto, 

os sem-teto.

Quando é necessário deixar claro que essas palavras estão sendo usadas no plural, isso é feito por um artigo, adjetivo, pronome ou verbo: 

"Os sem-terra estão acampados no Centro da cidade", 

"Choque expulsa vários sem-teto", 

"Sem-trabalho diminuem no Brasil".

Qual a lógica dessa ausência de flexão? 

Em todos esses casos, há um substantivo implícito. 

Por isso, não ocorre a flexão numérica: 

"Os (agricultores) sem-terra estão acampados no Centro da cidade", 

"Choque expulsa vários (moradores) sem-teto", 

"(Pessoas) Sem-trabalho diminuem no Brasil".

Convém observar que algumas palavras com "sem-" que são aplicadas a coisas e ações variam em número. 

Algumas dessas: 

o sem-fim, 

os sem-fins, 

o sem-segundo, 

os sem-segundos, 

o sem-termo, 

os sem-termos, 

a sem-vergonhez, 

as sem-vergonhezes, 

a sem-vergonhice, 

as sem-vergonhices.

Neste caso, a flexão ocorre porque não existe um substantivo implícito: 

“Infelizmente, as ( ) sem-vergonhices dos políticos brasileiros são incontáveis”.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

PERGUNTADO ou QUESTIONADO?

1o) QUESTIONAR não é PERGUNTAR.

Se você quer saber alguma coisa, PERGUNTE. 

Quando nós QUESTIONAMOS alguma coisa, estamos “pondo em dúvida”. 

Nós podemos, por exemplo, “QUESTIONAR o valor de um projeto, uma prestação de contas, a contratação de um jogador de futebol…”

É interessante observar que a diferença só existe entre os verbos. 

Um conjunto de PERGUNTAS forma um QUESTIONÁRIO. É que ainda não inventamos o “perguntário”.

2o) Só a coisa pode ser PERGUNTADA.

Quem PERGUNTA PERGUNTA alguma coisa (=objeto direto) a alguém (=objeto indireto). Isso significa que, na voz passiva, só a coisa poderia ser perguntada.

Com muita frequência, encontramos nos nossos bons jornais frases do tipo: 

“PERGUNTADO a respeito do projeto, o deputado…” 

ou 

“O delegado foi PERGUNTADO a respeito do crime”. 

Aqui temos duas frases em que o uso do verbo PERGUNTAR, Segundo a tradição, é inapropriado: 

nem o deputado nem o delegado poderiam ser “perguntados”. 

A realidade linguística  porém, nos prova o contrário. São formas consagradas, e eu as consider aceitáveis na lingual padrão.

Em resumo:

1o) “A validade do contrato foi QUESTIONADA” (=posta em dúvida);

2o) “Foi PERGUNTADO ao deputado se ele seria o candidato a prefeito” (=a coisa foi PERGUNTADA ao deputado).

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Nenhum foi eleito

Nenhum dos candidatos FOI ELEITO ou FORAM ELEITOS?
 
Nenhum dos candidatos FOI ELEITO ou FORAM ELEITOS?

Aqui não há polêmica. O certo é: 
 
“Nenhum dos candidatos FOI ELEITO”.
 
O verbo deve concordar com o núcleo do sujeito (=nenhum): 
 
NENHUM foi eleito. 
 
Observe outros exemplos:
 
“UM dos presentes RESOLVERÁ o caso.”
 
“QUAL de vocês VAI fazer o trabalho?”

“ALGUÉM dentre nós SERÁ o responsável pelo projeto.”

 
“NENHUM de nós dois PÔDE comparecer à reunião.”


Dicas de Sérgio Nogueira

Aumentativo de flor

Qual o grau aumentativo da palavra flor?


A palavra flor pode ter os aumentativos florzona ou florona, resultantes da junção dos sufixos -zona ou -ona.

Maiores informações

Se você quiser maiores informações sobre língua portuguesa, você não as vai encontrar por aqui.

Veja o porquê:

em vez  de MAIORES INFORMAÇÕES, MAIORES COMENTÁRIOS e MAIORES DETALHES, melhor seria MAIS INFORMAÇÕES, MAIS COMENTÁRIOS e MAIS DETALHES.


segunda-feira, 19 de maio de 2014

Junta a

O processo deu entrada “junto ao” STF. 

"Junto a" significa "perto de", "ao lado de".

Na verdade, o processo dá entrada no STF.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

Dica da Dad

 Por Dad

"Detido na terça-feira, no bairro Morrinhos, a mesma região onde Fabiane Maria de Jesus vivia e foi atacada…", escrevemos na pág. 6. Reparou no desperdício? Melhor poupar palavras. 

Assim:  

"Detido na terça-feira, no bairro Morrinhos, região onde Fabiane Maria de Jesus vivia e foi atacada…"

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Psiquê ou psique

O certo é "psique" (pronuncia-se pSIque), tanto no sentido de “alma”, “espírito”, como designando a personagem mitológica (Psique, companheira de Eros).
 
Houaiss registra a variante "psiquê", porém com a ressalva de que é “forma não preferível de psique”

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Falou e disse


Falar e dizer não são sinônimos. Quem fala, fala bem, fala muito, fala com alguém, fala diante dos outros. Já quem diz, diz a verdade, diz o que pensa, diz besteira, diz o que não deve. 

Falar tem a ver com o ato da fala. Dizer tem a ver com o conteúdo expresso por aquele que fala. 

Falou?

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Crase

"Quanto à demais reivindicações, ficou acertado que a equipe da assessoria jurídica da PGJ vai se reunir.."

Dúvida: leva crase ou não?

A crase é caracterizada pelo encontro da preposição "a" com artigo feminino "a". 

(a+a=à)

Como sabemos, o artigo concorda com o substantivo a que acompanha:

a reivindicação

as reivindicações  

Então, para que haja crase em "à demais reivindicações" a contração entre a preposição e o artigo não pode ficar de fora da receita:

a+às demais reivindicações = às demais reivindicações

Se não temos a concordância entre "à" e "reivindicações" no plural, o que temos mesmo é uma preposição pura (e sem crase, claro) como em:

Fui a festas. (com crase, ficaria assim: fui às festas)

Viu a presença do "s" indicando a presença do artigo?

Então a coisa fica assim:


"Quanto às demais reivindicações, ficou acertado que a equipe da assessoria jurídica da PGJ vai se reunir.."


Sendo que

Deixe o "sendo que" de lada e dê brilho à redação.

Saiba como:

- O enfoque é outro, sendo que a justiça constitui a legitimação da norma.

- O enfoque é outro, e a justiça constitui a legitimação da norma.

Que tal? Ficou bom?

E assim:

- O enfoque é outro; a justiça constitui a legitimação da norma.

Ficou bom, né?

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Citação de leis

No texto jurídico (petição, memorial, sentença), a primeira referência deve
indicar o número da lei, seguido da data, sem abreviação do mês e ano: 
Lei nº 4.860, de 26 de novembro de 1965. 
Nas referências seguintes serão indicados apenas o número e o ano: 
Lei nº 4.860, de 1965; ou Lei nº 4.860/65.

Os artigos de lei são citados pela forma abreviada “art.”, seguido de algarismo arábico e do símbolo do numeral ordinal (º) até o de número 9, inclusive; a partir do 10, usa-se só o algarismo arábico. 
Assim: 
art. 1º, art. 2º, art. 3º .... art. 9º; art. 10, art. 11, art. 20, art. 306, art. 909 etc.

Os incisos são designados por algarismos romanos, seguidos de hífen.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Coco ou côco?

No comércio local:

"Água de côco Sereia."

Putz, o popular cocô causa medo, não?

Chave para o problema:

a nossa norma ortográfica sofreu alteração em 1971, e o confuso CÔCO foi para as cucuias juntamente com SÊDE, ALMÔÇO, GÊLO.

O que temos hoje é:

sede, almoço, gelo e coco (fruto do coqueiro, sem acento).